Xote, romance e tambor no coração
- Daniela Mendes
- 24 de jul.
- 3 min de leitura
Paulista Natália Pery estreia no Festival Nacional da Canção, sexta-feira, 25, com “Xote Carinhoso”, música inspirada por viagem ao Nordeste e paixão por ritmos populares.

A música veio como uma coisa de família para a cantora e instrumentista paulista Natália Pery. O despertar foi ainda na infância, nos encontros de família e no repertório da canção caipira, tocada e cantada com afeto pelos avós maternos, que formavam uma dupla e chegaram até a se apresentar na Rádio Nacional, embora nunca tenham seguido carreira profissional.
“Esse repertório do cancioneiro caipira sempre foi muito presente nas nossas reuniões”, recorda Natália. E também lembra da família paterna, marcada por uma atmosfera urbana, com samba, futebol e rodas musicais animadas por tios e primos percussionistas intuitivos.
Foi nesse ambiente múltiplo e sonoro que a artista aprendeu seus primeiros acordes: o pandeiro com um primo, o violão com uma tia. O aprendizado se expandiu com uma formação musical que soma canto coral, percussão e violoncelo.
Mesmo com essa base sólida, a ideia de viver de música parecia distante. “Nunca foi colocado como uma possibilidade real. A música estava ali, fazia parte do meu dia a dia, mas não como profissão.” A ausência de incentivo refletia uma lógica comum: arte como hobby, não como trabalho.
Nos últimos anos, esse cenário começou a mudar. A virada veio com o entendimento de que a música poderia, sim, ser um caminho profissional. Desde então, Natália retomou os estudos formais e começou a construir uma carreira como artista independente. Hoje, cursa formação em canto popular e dá continuidade, com mais segurança, ao caminho iniciado por seus avós.
Já a oportunidade de participar da 55ª edição do Festival Nacional da Canção chegou de forma despretensiosa. “Fiquei sabendo pelo Instagram, mas também através do selo musical do qual faço parte. Eles me ajudam a distribuir e lançar minhas músicas, e foram eles que me deram aquele cutucão”, conta.
O incentivo foi decisivo. Natália inscreveu suas composições mais recentes e, por fim, incluiu também “Xote Carinhoso”. “Tinha esperança de que outras músicas passassem. Mas fui surpreendida, e fiquei feliz, porque percebo que o público tem um carinho especial por essa música.”

O single nasceu no avião, durante o voo de volta de uma viagem a Pernambuco. “Estava muito inspirada”, conta. A imersão na cultura local foi profunda: rodas de coco, maracatus, visitas a comunidades quilombolas e escolas de Maracatu Rural na Zona da Mata. “Me conectei com a cultura, com as pessoas, com o ritmo das coisas.”
A inspiração também veio de um encontro inesperado: durante a viagem, conheceu um professor de capoeira, com quem viveu um romance breve e intenso. A musicalidade e a força simbólica da capoeira influenciaram diretamente na construção da canção. “Por isso essa música tem elementos da capoeira. Tem berimbau, tem essa atmosfera de encantamento e corpo em movimento.”, confessa.
A decisão de inscrevê-la no festival veio depois, como uma maneira de honrar o processo emocional e cultural que deu origem ao single. Ela vê a presença do forró como linguagem afetiva. “O forró sempre esteve presente para mim, principalmente através da dança. Eu frequentava muito os forrozinhos da cidade. Era quase uma terapia, uma oportunidade de estar junto, de abraçar, de trocar energia com outras pessoas. É um sentimento que muita gente compartilha.”
Agora, prestes a subir ao palco do Festival, Natália celebra a seleção da música com humildade e entusiasmo. “Foi uma surpresa que ‘Xote Carinhoso’ tenha sido pré-selecionado. Fiquei muito feliz, muito lisonjeada.” Com os pés firmes e o coração aberto, ela espera apenas poder ser quem é em cima do palco. “Quero poder performar com o sentimento real da música, sentindo do meu jeito, e entregar isso ao público. Esse sentimento de amorosidade, de chamego, de flerte... essas coisinhas gostosas que a música carrega.”
Programação do 55o. Festival Nacional da Canção:
Sexta-feira, 25:
14h: Coro Vivavoz & Ação Cultural Artes Vertentes no Largo das Forras
14h40: Entrega da premiação do concurso de redação no Largo das Forras
15h: “O pequeno grande circo do Pinico” no Largo das Forras.
16h: Espetáculo “Nossa Senhora do Bom Humor” no Largo das Forras.
17h: II Duo (lírico) no Largo das Forras
17h30: Quinteto Bravíssimo.
20h: Abertura com Show de Paulo Ricardo e músicas concorrentes, na Praça da Rodoviária.
Sábado, 26:
14h: Coral da Apae no Largo das Forras.
14h30: Espetáculo “Nossa Senhora do Bom Humor” no Largo das Forras.
15h20: “Meu ouvido não é Pinico” no Largo das Forras.
16h20: “Marionetes a Fio” no Largo das Forras
16h40: II Duo (lírico) no Largo das Forras
17h: “Cortejo da Canção com Batucada das Minas e Show Sempre Vivas. O cortejo sai da Igreja do Rosário às 17h.
20h: Músicas concorrentes e intervenções artísticas.







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