top of page
Logo da criadora Daniela Mendes

Memórias sem paredes

Uma breve conversa com a atriz portuguesa Andréa Fernandes que encena monólogo que une política e poesia no palco do Teatro da pedra amanhã (8).


Foto divulgação da peça “As Lesmas não são tão diferentes dos Caracóis”.
Foto divulgação da peça “As Lesmas não são tão diferentes dos Caracóis”.

Dizem que “lar é onde o coração está”. Mas, ironicamente, se ele não está entre paredes é aí que as pessoas não querem vê-lo. O abrigo pode se transformar em estrada para qualquer um. Afinal, destino é coisa que ninguém controla. Basta uma chuva forte, um revés violento, para tijolos e histórias se desfazerem, ficando expostos num banco de praça ou entulhados na via pública com o que restou. E o coração continua mesmo sem o lar. E as pessoas não querem admitir essa realidade.


ree

É nesse território subjetivo que a atriz portuguesa Andréa Fernandes conduz o público no monólogo “As Lesmas não são tão diferentes dos Caracóis”. Em cena, a vida de uma mulher sem abrigo, que, apesar da dureza, mantém um olhar encantado para as coisas singelas. Uma realidade que, para muitos, é tanto temida quanto rejeitada, e que o espetáculo convida a encarar de frente.


O título da peça é metáfora e provocação: “A única diferença entre uma lesma e um caracol é a casa que ela carrega nas costas. Qualquer um de nós pode perder a sua”, diz Andréa.


A atriz está em São João del-Rei desde abril, vivendo um intercâmbio acadêmico que termina em setembro. Nesse tempo, acompanhou de perto o trabalho do Teatro da Pedra e mergulhou na realidade brasileira, que para ela amplia o sentido do espetáculo: “Não sou ingênua de achar que uma pessoa sozinha vai mudar tudo. É preciso transformação sistêmica. Mas se formos tão boas pessoas quanto costumamos dizer, podemos juntos fazer alguma diferença.


O texto, sensível e simbólico, percorre a memória que um corpo feminino guarda. Entre cores, formas e símbolos, traz um olhar humano que flerta com a loucura para dar vida às lembranças tanto reais quanto inventadas de uma mulher em situação de rua.


A cenografia, assinada por Duarte Banza, é uma obra de arte por si só: lembra os bordados inspirados na tradição de Viana do Castelo, no norte de Portugal, onde mulheres camponesas imprimem símbolos e frases sobre suas vivências, memórias e lutas em tecidos.


O espetáculo vem sendo construído desde 2022 e estreou em janeiro numa criação conjunta de Andréa e encenação de Apollo Neiva, dentro da companhia Associação Porta 37, fundada por ela e outros artistas. Mais que denunciar, a montagem propõe um olhar coletivo para a mudança.


ree

Na visão de Andréa, o teatro é um chamado à consciência: “Criamos essa obra para que o público pense conosco. Que saia refletindo sobre quem é e como quer agir no mundo.” E, embora a atriz prefira não estabelecer uma hierarquia entre as dores do feminino e do masculino quando em situação de rua, acredita que a personagem traz uma mensagem especial às mulheres: “Somos mais fortes quando percebemos que somos amigas, mesmo sem nos conhecermos. Temos que estar umas pelas outras para que a luta continue. Vivemos tempos críticos.


Serviço


As Lesmas não são tão diferentes dos Caracóis

Sexta-feira, 8 de agosto, às 20h

Teatro da Pedra – São João del-Rei

R$ 30 (inteira) | R$ 15 (meia) – ingressos no local até 15 minutos antes

Duração: 35 minutos | Classificação: 16 anos

Mais informações: (32) 98866-4585 | Instagram: @teatrodapedra

Comentários


bottom of page