Helena conta tudo sobre brunch.
- Daniela Mendes
- 13 de jul. de 2022
- 6 min de leitura
Desde 2020 em Tiradentes, Helena abre sua primeira casa de brunch em sociedade com Ingrid. Para as leitoras de Mana, ela deixa uma receitinha de bolo de laranja.

Sabe quando você acorda tarde e tem que escolher entre o café da manhã e o almoço? Ou quando a gente acorda de ressaca, tem fome, mas não quer comer uma refeição grande? Aí a pessoa está à passeio na cidade e quer tomar um drink de dia que combine com o céu azul... Pois é. Todas as opções acima se enquadram no tipo de quem procura um brunch. E a cozinheira Helena Schmidt foi a primeira, junto com a sócia Ingrid Borges, a abrir um espaço especializado neste tipo de serviço em Tiradentes (MG).
O brunch é uma refeição matinal britânica. A origem da palavra vem de breakfast e lunch, que ao traduzir mistura as palavras café da manhã e almoço. É exatamente o que ele significa e, na Inglaterra, as famílias ou grupos de amigos se reúnem em dias especiais entre 10 e 14 horas para tomar o brunch. “A gente costuma brincar que é um café da manhã etílico. A mimosa* é um clássico”, se diverte Helena.
A exemplo do “Morada”, o charmoso estabelecimento da cozinheira, este tipo de refeição também pode ser servido em estabelecimentos especializados. É perfeito para cidades turísticas. Helena diz que na Europa é muito comum e as casas de brunch ficam lotadas. Mas aqui a ideia ainda é uma novidade que as pessoas estão descobrindo.
O cardápio em Tiradentes também abrasileirou bem a cultura inglesa. Tem broa de fubá, galinha confitada*, quiabo, temperos de ora-pro-nobis, queijo minas, entre outros produtos da região. “Tendemos a comprar tudo aqui de perto e orgânicos. A gente valoriza essa galera pequena, comprar dos mercadinhos da cidade. Nem tudo conseguimos, mas a ideia é sempre comprar de quem produz”.
Da agência para a cozinha.

Foram muitas experiências até chegar ao Morada. A gastronomia não estava desde sempre na vida de Helena. Ao procurar lembrar como começou a se aventurar na cozinha, ela não consegue determinar uma idade. Mas calcula que entre os anos da puberdade ficava incomodada com o gosto do pozinho do miojo. A partir daí, começou a incrementar o lamem* e fazer experiências na cozinha.
Em Juiz de Fora (a 152km de Tiradentes) ela estudou publicidade e nem imaginava trabalhar com gastronomia. Mas aquela história... “Cozinhava para amigos, fui aprendendo a fazer risoto e essas coisas que a gente aprende assim de ver”, lembra. Seguiu na profissão, abriu uma agência em sociedade. Depois, não deu certo e fez um café em uma locadora de DVD.
Com a mãe, aprendeu a fazer uns doces. A irmã também ajudava, mas o dinheiro vinha ainda muito pingado. Uma amiga tinha aberto um ponto onde vendia sushi e não conseguiu levar adiante. Helena então resolveu fazer o sushi na locadora.
“Fiquei 35 dias na Europa conhecendo todos os brunchs que eu consegui ir. Todo dia eu comia brunch em algum lugar. Foi uma viagem pra comer. Helena Schmidt

Mas rotatividade de funcionários, de sushimen, era muito grande. Por isso, a cozinheira se tocou que tinha que aprender a fazer para não “ficar na mão”. Promoveu o ajudante de cozinha a sushiman, mas não sem antes ir fazer um curso com ele. “Inclusive ele hoje é um dos melhores em Juiz de Fora. Ele é muito bom”, elogia.
Cafés, Compotas e Brunch
Como a história conta, a era das locadoras chegou ao fim. Helena fez uma sociedade para produzir conservas. A esta altura, a então publicitária não tinha percebido que ela já havia escolhido o ramo da gastronomia. “Eu fiquei sócia disso pensando mais no marketing ainda, em cuidar das redes sociais, da marca... E quando eu vi eu estava realmente enfiando a mão na massa, fazendo produto novo, testando. Aí realmente era da cozinha”, recorda.
Em Juiz de Fora, também existia muitas feiras de culinária. Além delas, começou a fazer caterings*, camarins de shows, locações de filmagens e fotografias, cafés da manhã de congressos, jantares nas casas das pessoas e buffet de pequenos eventos.
Como os negócios iam bem, se juntou a mais uma sócia e abriu um café na casa onde morava. Ali foi sua primeira bruncheria. “E aí foi ótimo! Experimentação de tudo. Descobri que adorava fazer café da manhã mesmo”, avalia.
Para se aprofundar mais nesta cultura, foi ver de perto como ela funcionava. “Fiquei 35 dias na Europa conhecendo todos os brunchs que eu consegui ir. Todo dia eu comia brunch em algum lugar. Foi uma viagem pra comer. Uma viagem de comida”, enfatiza e lembra que ficou feliz em descobrir que estava no caminho, que o cardápio dela em Juiz de Fora estava dentro do que viu na Europa. Isso não impediu, no entanto, que as sócias voltassem com mais ideias.
A pandemia.

A sociedade acabou em janeiro de 2020 e Helena estava pronta para tocar a Casa sozinha. Mas logo depois começou a pandemia e as incertezas. A conselho da mãe fechou o negócio e entrou em distanciamento social. Cinco meses depois, uma amiga postou uma vaga numa cozinha de um restaurante em Tiradentes. Foi aí que ela chegou até aqui.
Aqui na cidade, ela passou por alguns restaurantes e um café naqueles movimentos de abrir e fechar os estabelecimentos em função do aumento e diminuição de infectados. Chegou a voltar para as conservas e confitados*, a fazer e vender. A ideia de Helena, no entanto, era outra: ficar um ano, conhecer Tiradentes, as pessoas e o mercado para depois abrir seu próprio negócio. “Só que eu tinha três reais, sabe? Três reais não dava”, brinca.
No início do ano, Ingrid resolveu vir para Tiradentes e ofereceu a sociedade para a Helena. Meio a um movimento de grande especulação imobiliária acharam um ponto no centro da cidade e deixaram tudo com a cara delas. “Abrimos uma casa de brunch de novo, que é o que eu gosto de fazer na vida”, afirma realizada.
Estrela da Casa.
O prato mais famoso do “Morada” é a “Tosta Tiradentina”, que tem uma história bem romântica. No aniversário da namorada, a cozinheira perguntou: “O que você quer de presente?”. E a companheira respondeu algo inusitado: “Quero uma Tosta Tiradentina”. O engraçado é que a cozinheira não fazia ideia do que era. E, ao questionar, só recebeu um “se vira”. Pronto! O presente era a resposta de um desafio.
Helena foi para o mercado pensando em itens que a namorada gostava e o que combinava, além de procurar insumos da região. “Aí cheguei num queijo cremoso, um cogumelo de Barbacena, abobrinha confitada, raspa de limão e um pão de receita italiana gostoso”, descreve. No dia seguinte, estava a tosta pronta no café da manhã. “Ela [a namorada] comeu e amou. Eu nem tinha plano de abrir o Morada. Mas ela disse que o prato tinha que entrar na casa de brunch quando eu abrisse”. E foi profético, esse é o ítem mais vendido.

Nós também lançamos um desafio para Helena. Como sempre fazemos no “Boca de Forno”, pedimos para ela compartilhar uma receita na Mana. Generosa, ela deu a receita de bolo de laranja da família, que a avó fazia. A discípula, mãe da cozinheira, superou a mestra. Mas Helena não sabe dizer se superou as duas.
Aproveitamos ainda o momento de compartilhamento para perguntar também para ela como fazer um brunch em casa e os conselhos que Helena tem para quem deseja se aventurar neste costume. “Eu acho que em comemorações é sempre válido. Se você quiser fazer um aniversário diferente, pela manhã, aí você chama os amigos. E assim: pão, ovo e bacon já fica um brunch maravilhoso. Fica uma delícia. Trabalhar com isso já caracteriza. E a mimosa! É uma delícia!”, ressalta o último item como algo imprescindível.
Glossário:
Lámen, ou rāmen: alimento japonês. Um prato de lámen normalmente é composto por um tipo de macarrão chinês, uma sopa com caldo à base de ossos de porco, peixe ou frango, e temperados com uma base tarê que dá sabor ao caldo base
Catering: é tipo um buffet, ou seja, que se contrata para se fazer comida de um evento. Mas a diferença é que aqui está incluído tudo que envolve o preparo do alimento: o transporte, a montagem dos pratos, a disponibilidade para resolver eventuais problemas durante a festa e, ainda, a limpeza após o término. Dessa forma, a pessoa contratante não precisa se preocupar em orientar os profissionais no meio do evento ou mesmo ter que lidar com os vários fornecedores ao longo do caminho.
Confitados: Confit é qualquer tipo de alimento que é cozido lentamente por um longo período como um método de conservação.
Mimosa: a mimosa é um drink. Em sua forma tradicional leva um espumante gelado e um suco de laranja fresco, espremido na hora. A proporção é de um terço de suco de laranja para cada quantidade do espumante.
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