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Entre o espelho e a vitrine

Atualizado: 18 de jul.

Nossos critérios de escolha das roupas estão presentes nas diversas formas de vermos o mundo e novelas, como Vale Tudo, nos influencia também.

A personagem Solange Duprat versão 2025 gerada por IA/chatgpt
A personagem Solange Duprat versão 2025 gerada por IA/chatgpt

Você acorda, abre o armário e escolhe o que vestir. Também o brinco, a pulseira e a forma que vai prender o cabelo. Parece simples. Mas cada uma dessas decisões, aparentemente banais, envolve muito mais do que combinações de cores, materiais ou texturas de indumentárias.


Cada roupa carrega códigos próprios, desejos, pertencimentos, julgamentos e até memórias, assim como cada pessoa. Pensando nisso, propomos uma brincadeira: e se olhássemos para o remake de Vale Tudo como espelho dessas escolhas?


A novela, em suas duas versões, provocou o público não só pela trama, mas pelos figurinos. As roupas de Raquel, Maria de Fátima, Odete Roitman e Solange Duprat geraram debates intensos nas redes sociais. Por quê? Porque o vestuário revela, confronta e comunica muito além da aparência. Simples assim e pouco aplicado por nós como categoria reflexiva.


Pensar a moda é pensar sociedade, identidade, política e até moral. E em tempos de crise ambiental, essa reflexão se torna ainda mais urgente. Entender por que vestimos e o que vestimos pode ser o primeiro passo para consumir com consciência e mais responsabilidade.


Raízes invisíveis que nos ligam a um grupo


Figurino do núcleo da agência Tomorrow/Arquivo Globo
Figurino do núcleo da agência Tomorrow/Arquivo Globo

Para começar, nos vestimos para os outros. Nossa aparência é uma porta de entrada: comunica, antes mesmo da palavra, quem somos, a que grupo pertencemos ou com quem queremos dialogar. A roupa é um elemento de integração na sociedade.


Pense em movimentos juvenis, como punks, góticos, hippies ou rappers: cada um construiu um repertório visual que une quem compartilha valores, músicas e discursos. De uma vez por todas: roupas, acessórios, cores e símbolos são uma linguagem que permite reconhecer quem é “do grupo” e quem não é.


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Na vida cotidiana, mesmo fora dessas tribos, roupas ajudam a navegar por contextos sociais diversos: trabalho, lazer, cerimônias. Escolher uma roupa, nesse sentido, é escolher como queremos ser lidos socialmente.


Raquel Acioli começa vendendo sanduiche na praia/Instagram Taís Araújo
Raquel Acioli começa vendendo sanduiche na praia/Instagram Taís Araújo

Moda útil: mais que estética, estratégia


Além do aspecto social, existe a função prática: as roupas servem como abrigo do corpo. Protegem do frio, da chuva, do sol, das mudanças bruscas de temperatura.


Na prática esportiva, por exemplo, vestimos peças leves, elásticas, que permitem movimentos. Para trabalhos manuais, tecidos resistentes que suportam desgaste.


Conforto, durabilidade e praticidade são características fundamentais: pense em uniformes de profissões, roupas de viagem ou mesmo no figurino de personagens de ação que precisam saltar, correr e lutar sem restrições. Essa utilidade molda formas, tecidos e estilos, tornando-os quase inseparáveis de certas atividades.


E alguém notou como cada personagem traz o traço da sua personalidade no vestuário de ginástica? Ou como as roupas de Helinha (Paolla Oliveira) dão a ideia de mobilidade necessária e conforto para quem trabalha com artes? E a Maria de Fátima com as roupas que realçam o corpo sem tirar o conforto? Muitos valores práticos agregam-se numa roupa.


Maria de Fátima quando foi a Parati pela primeira vez/Arquivo Globo
Maria de Fátima quando foi a Parati pela primeira vez/Arquivo Globo

O dilema moral da moda


As roupas também têm uma função moral: cobrir a nudez. Em muitas culturas, há partes do corpo consideradas indecentes ou vergonhosas, e o ato de cobri-las está ligado ao pudor, ao sentimento de pecado ou vergonha.


Ao mesmo tempo, vestimos roupas para realçar atrativos sexuais: decotes, fendas, transparências, tecidos que moldam o corpo. Essa tensão entre esconder e revelar é parte da história da moda, e o que é visto como “decente” ou “indecente” varia de acordo com época e cultura.


No cinema, figurinos podem evidenciar isso ao máximo: vestidos glamorosos, trajes ousados ou figurinos recatados contam não só quem é a personagem, mas também de que moralidade ela participa.


Esse aspecto ficou todo por conta da Maria de Fátima, Bella Campos. Além do questionamento sobre ela ser aceita por ser negra pela família de bilionários, as pessoas criticavam o "jeito vulgar" da personagem se vestir.


Já a Raquel Accioli, personagem interpretada por Taís Araújo na novela Vale Tudo, caiu na língua ferina do público por outro tipo de questionamento do vestuário. Teve até quem cravasse a marca do shampoo barato da personagem, sendo que isso nunca foi mostrado.


Raquel Acioli e seu namorado Ivan, na trama da novela.
Raquel Acioli e seu namorado Ivan, na trama da novela.

Os vestidos da cozinheira foram repetidamente criticados ao lado do cabelo. E houve quem desenvolvesse ódio pela personagem por ela parecer pobre, mal vestida e extremamente honesta.


As estampas escolhidas para representar a história da personagem viraram as verdadeiras vilãs. Acusaram os figurinistas de usar de forma excessiva o recurso para a personagem, dando a impressão de que a novela associa estampas a dificuldades financeiras. O que não é verdade, pois a personagem Celina (Mallu Galli) também usava e se mantinha elegante.


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O que estava incomodando mesmo era Raquel se tornar empresária, dona de um restaurante, e continuar a parecer sem recursos para investir em seu guarda-roupa.


Raquel empresária de uma empresa de catering.
Raquel empresária de uma empresa de catering.

Agora, numa segunda fase, quando Raquel expande seus negócios para um serviço de catering e o figurino muda, caem as peças únicas estampadas e entram em cena os looks com peças lisas e outro tipo de estampas.


Mudaram também os tipos as estampas, os acessórios, os cortes das roupas. Muita coisa que um bocado de gente não percebeu. Identificar os códigos de luxo e pobreza nas roupas daria outro texto. Por hora, vamos apenas chamar atenção aqui de como a roupa pode levar as pessoas a julgamentos de toda espécie.


Crachá social

Família do núcleo de Vila Isabel/Arquivo Globo
Família do núcleo de Vila Isabel/Arquivo Globo

Moda também serve para diferenciar: reconhecer profissões, crenças religiosas, níveis sociais ou estilos de vida. Uniformes de médicos, vestes clericais, roupas de gala ou roupas de rua falam tanto quanto palavras.


A indumentária é uma forma de pertencimento a uma comunidade, movimento ou cultura. Basta ver filmes históricos ou biografias: o figurino localiza o espectador no tempo, no espaço e no grupo ao qual aquele personagem pertence.


Mesmo que duas pessoas vistam o mesmo uniforme, sempre haverá algo que as diferencia: acessórios, maquiagem, penteados, cortes de cabelo, postura e até comportamento. Essa é a dimensão do estilo pessoal, que sobrevive à uniformização.


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Vestir-se é também afirmar identidade e expressar modernidade. Quem ousa sai na frente, busca a vanguarda, experimenta o novo antes que ele seja consenso. Estar à frente garante, muitas vezes, acesso a pessoas e lugares certos, fortalecendo redes sociais, afetivas ou profissionais.


Solange (Alice Wegman) faz isso de forma impecável unindo o clássico à vanguarda. A personagem quer se manter no topo, chegar primeiro, conquistar espaços de poder com criatividade e suas roupas inspiram porque transmitem isso.


Da mesma forma, o contrário também acontece. O que dizer da verdadeira fobia que Marco Aurélio sentia pela combinação de cores monocromática de Aldeíde, se não o efeito que o vestuário causa nas pessoas? Fazia tempo que uma novela chamou tanta atenção para o figurino como o remake de Vale Tudo.


No fim, mesmo quem diz “não ligar para moda” está comunicando algo que não quer comunicar, e isso já é uma forma de mensagem. Então o melhor mesmo é não julgar e saber ler o valor que cada um dá a roupa que escolhe. E, principalmente, o que você quer dizer ao se vestir de determinada forma.


Os Roitmans/Arquivo Globo
Os Roitmans/Arquivo Globo

Teste: Quem é você ao abrir o guarda roupas


Responda às afirmações abaixo dando uma nota de 0 a 3 conforme você se identifica:

0 = nada a ver comigo

1 = um pouco

2 = bastante

3 = totalmente eu

Some os pontos no final e descubra qual personagem mais parece com você ao escolher o que vestir.

 

Afirmações:


  1. Conforto sempre vem antes da moda para mim.

  2. Escolho roupas pensando se elas vão durar anos.

  3. Prefiro qualidade e tradição a quantidade ou novidade.

  4. Eu adoro exibir marcas ou etiquetas quando me visto.

  5. Não tenho medo de ousar em estampas, brilhos ou peças chamativas.

  6. Já montei um look inteiro só para causar impacto.

  7. Costumo pensar estrategicamente sobre a imagem que quero passar.

  8. Tenho peças “coringa” para cada situação importante.

  9. Acho importante saber diferenciar ocasiões para usar algo sexy ou algo discreto.

  10. Entendo moda como parte da história e da cultura, não só como consumo.

  11. Gosto de combinar referências diferentes para criar um estilo pessoal.

  12. Minhas escolhas de roupa mudam conforme percebo mudanças culturais ou tendências.

Resultado

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De 0 a 12 pontos

Você é a Raquel: Praticidade e honestidade acima de tudo. Você gosta de roupas limpas, passadas, confortáveis e não perde muito tempo pensando em combinações. Mas, se for preciso, sobe no salto e faz bonito.


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De 13 a 21 pontos

Você é a Maria de Fátima: Moda para você é autoestima e poder. Gosta de chamar atenção, ousa sem medo de ser cafona e acredita que uma boa etiqueta faz toda a diferença. Aparência é seu cartão de visitas.


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De 22 a 29 pontos

Você é a Odete Roitman: Nada no seu visual é por acaso. Cada peça é escolhida estrategicamente para compor uma imagem sofisticada. Elegância é resultado de planejamento, coerência e muito repertório.


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De 30 a 36 pontos

Você é a Solange Duprat: Moda, para você, é cultura, história e leitura do espírito do tempo. Seu estilo nasce da mistura de referências, contextos e reflexões. O guarda-roupa é quase uma tese viva sobre quem você é.


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