Ela vai botar o violoncelo na rua
- Daniela Mendes
- 16 de ago.
- 4 min de leitura
Lydia Fernandes mostra amanhã o resultado do trabalho que busca popularizar um dos mais clássicos instrumentos musicais.

Neste domingo (17), às 18h, Lydia Fernandes divide com o público o resultado de um processo artístico marcado pela subjetividade. Nas plataformas digitais do Youtube e Spotify, a violoncelista lança mais um single com arranjo de Pablo Araújo: a música “Devaneio”.
Em respostas que parecem labirintos singulares, Lydia fala do resultado de um processo em que diferentes tipos de arte se confundiram harmoniosamente neste projeto musical. “Meu processo é muito misturado. Ao mesmo tempo que penso na música, já penso no figurino, no clipe, no roteiro”, diz.
Sem poupar ouvintes que insistem em cartografar artistas, ela recorre a uma elegância de intenções, calculada em estratégias poéticas, para que a música siga livre, atravessando lugares inesperados. “Gosto de pensar cada criação como uma grande brincadeira séria.”
Para ela, tudo é linguagem e tem idioma próprio. O resultado, como usou o macramê da artesã Nina Barbosa é um bom exemplo. “O figurino nasceu de um sonho. Era como se fosse meu sangue, minhas entranhas expostas, pegar de dentro e botar para fora.”
Porque por mais que as notas musicais pareçam inefáveis para quem não consegue diferenciar um si de um ré, Lydia insiste em criar ponte entre as pessoas com a música. “Para mim, tem que ter um discurso, algo que você quer contar, mesmo que seja subjetivo.”
Quase não se contendo dá um spoiler: “O clipe tem uma história, não é só eu tocando. Tem narrativa, transições, elementos que mostram a viagem da minha cabeça.”

Ideias em som e imagem.
O vídeo é uma parceria com Leo Rudá e Paul Domingos, afinal, como ela mesma diz, “se mete” em todos os processos. O que é natural para quem também encontra no audiovisual mais uma forma de externar o universo interior que traz na canção instrumental.
E embora não goste de ser filmada, muda de posição se é em nome da sua arte. Que acontece para ela como algo urgente. “Esse trabalho específico do devaneio é sobre ressignificar sentimentos. Ele tá muito envolvido comigo, com algo que eu queria, com um sentimento que eu tinha e precisava de alguma forma significar de forma positiva, fazendo algo com isso.”, revela a musicista.
Lydia diz que o vídeo obedece um roteiro, uma lógica. “Essa ressignificação, é um conjunto de manifestações de verdades subjetivas, que são minhas… Então “Devaneio” não tem a ver com loucura. É o rompimento com o óbvio cotidiano a fim de garantir o espaço na obra para o ouvinte, o receptor também se apropriar, se aproximar do que se guarda na mediação com o corpo integrado ao violoncelo de onde salta a melodia.
E embora o papo se desenvolva de forma quase enigmática e longe do pragmatismo do trato do dia a dia, a violoncelista localiza a música num estilo fácil: “Ela é singela, quase romântica… É quase pegar um sentimento e transformar em música e clipe.” Talvez, um estilo muito próprio dela que se pode checar no Spotify da musicista onde está outro single dela: "Estopim".
Lá do interior vem a música...

Esse trajeto movido pela música, que parte do interior, também pode ser tomado por outro sentido da palavra, o geográfico. “Eu venho de Poço Fundo, uma cidadezinha… O que me fez sair de lá foi a música.” A cidade do sul de Minas é um pouco mais populosa do que Tiradentes. Tem 16.390 habitantes segundo o IBGE cidades.
Lá ela começou estudando órgão, depois pegou o violão, passou no vestibular com este instrumento, mas não se encontrou e até quase largou a música. Então, entrou em um curso de violoncelo e aconteceu o encontro fundamental. “No que fiz a aula, nunca mais parei de tocar.”, confessa a paixão sorrindo.
No entanto, havia ainda um problema. Ela não se identificou com o repertório clássico, que é mais associado ao instrumento. Por isso busca sozinha pesquisar uma vertente do instrumento mais popular. “Hoje estudo com Carol Panesi, fazendo uma imersão de 10 meses na música popular com instrumentos de arco.”, cita entre outras buscas.
Mas destacamos esta porque a professora é um dos nomes mais relevantes da música instrumental contemporânea, reconhecida pela versatilidade e ligação com Hermeto Pascoal e Léa Freire. A obra dela transita entre frevo, choro, samba, forró e jazz. Uma biografia que dá uma pista onde Lydia deseja chegar. “Um dos meus papéis é levar o violoncelo para onde ele normalmente não iria, tirar do pedestal, da elite, e colocar no meio da rua, da roça e de um bar."
Parece mesmo que a artista comunga de uma forte crença no movimento como perpetuador de sentidos quando o som escapa do arco e vai tocando gente por gente. “Depois que você coloca no mundo, já está eternizada naquele trabalho.” E por isso, acaba sendo categórica: “Se não me move, não estou disposta a fazer.”
Serviço
Devaneio
Instagram: @_Lydia_Fernandes
Youtube: Lançamento de Devaneio
Spotify: Lydia Fernandes
Direção: Paul Domingos
Roteiro: Lydia Fernandes e Paul Domingos
Direção de Fotografia: Leo Ruda
Composição: Lydia Fernandes e Pablo Araújo
Arranjo: Pablo Araújo
Gravação: Estúdio El Niño
Edição, Masterização e Mixagem: Leonardo Avellar
Participações Musicais: Maria Analia , Larissa Novo, Raquel Baeta e Guilherme Faria
Figurino: Nina Barbosa
Maquiagem: Isabela Ferreira

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