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Afetos em cena

  • Foto do escritor: Daniela Mendes
    Daniela Mendes
  • 20 de ago.
  • 7 min de leitura

A nova temporada do Teatro da Pedra tem clima de festival e programação variada que estimula o diálogo e a diversidade. Entrevista com Letícia Bezamat, das Fanchecléticas.


Letícia Bezamat/ Foto divulgação Mateus Santos Fanchecléticas
Letícia Bezamat/ Foto divulgação Mateus Santos Fanchecléticas

Distante do centro de São João del-Rei, o Teatro da Pedra faz da Colônia do Marçal um espaço de cultura e educação. Atravessando ruas por lá, você cruza municípios sem nem se dar conta. Perto dali, está a Serra de São José. O bairro quase se mistura com o distrito de Águas Santas e se avizinha com Cesar de Pina, ambos de Tiradentes.


Quem chega por aqui a primeira vez pode se surpreender: mas o teatro é lá? É. E é tão inusitado que ser de São João del-Rei sem nunca ter ido ao Teatro da Pedra é como sentar no restaurante da Filó e pedir um big mac. Claro que esta arte não é a preferida de muita gente. E a cidade tem um grande palco com tradição no centro. Mas quem procura inspiração por meio de uma programação cultural num ambiente autêntico, tem lá um destino que aplaca a sede cultural.


Agatha Fiori/ Divulgação
Agatha Fiori/ Divulgação

Sábado, 23, é uma ótima oportunidade para experimentar o que falamos. É quando começa a temporada “Encruzilhada dos Afetos: coletividades e resistências do amor”.  Até 6 de setembro exposições, mesas de debate, exibição de documentário e espetáculos de várias companhias vindas de outras cidades, como Belo Horizonte e Uberlândia, vão dar um clima de festival à sede. E, no último dia da temporada tem a estreia de “Brutal”, nova produção do grupo, que questiona os sistemas de opressão que coexistem no capitalismo, como o patriarcado, o racismo e a escala 6x1. E só para completar: um bar funcionando durante a noite promete um clima boêmio para a troca livre de ideias e, claro, afetos.


Entre os destaques das mesas, vale ressaltar, está a de “Arte política na encruzilhada dos afetos: resistências e cuidados”, que reúne a deputada federal Duda Salabert, a vereadora Cassi Pinheiro e a professora da UFSJ Isabela Saraiva.


Neste clima de véspera, convidamos a atriz, artista gráfica e gestora das Fanchecléticas, Letícia Bezamat. Elas estão na programação da estreia com a peça Expedição Reversa.


Peça Expedição Reversa/ Foto divulgação Mateus Santos Fanchecléticas
Peça Expedição Reversa/ Foto divulgação Mateus Santos Fanchecléticas

Quem é você? Quem é você dentro do grupo? Me fala um pouquinho de você.


Eu sou Letícia, sou artista de teatro. Também sou produtora gráfica, designer gráfico, trabalho com artes gráficas em geral, serigrafia. Atualmente tô na gestão da Associação Arte Sapas, que é a instituição que a gente criou para estruturar um pouco mais o nosso trabalho artístico. Dentro da associação eu faço parte da coletiva Fanchecléticas, que é a coletiva de teatro, o eixo sociocultural da associação, onde a gente trabalha especialmente as nossas produções artísticas, teatrais, musicais, entre outros projetos. Além disso, trabalho como gestora dentro da associação, então tenho muitas outras funções, como coordenação de comunicação, sobretudo por trabalhar com design gráfico. Essa é a área em que eu tô mais atuante dentro da associação e da coletiva. Enfim, sou de multiartes, digamos assim. Sou natural de São João del-Rei, mas moro em Belo Horizonte há 13 anos. Sou uma pessoa não binárie, me identifico como sapatão e, dentro do meu trabalho artístico, ao longo desses seis anos junto com as Fanchecléticas, tenho pesquisado arte sapatão e arte LGBT no geral, produzindo pesquisas e desenvolvendo projetos com o grupo, focados na comunidade LGBTQIAPN+.


Quem são as Fanchecléticas e como a coletiva se insere dentro da Associação Artes Sapas?


As Fanchecléticas são uma coletiva de artistas que surgiu dentro da escola do Palácio das Artes, onde a gente estudou teatro. Começou como um grupo que estava fazendo uma cena curta. Essa cena curta teve uma repercussão muito grande. O nome era Eu Não Sei Você, Mas Eu Sou Sapatão. Ela circulou bastante em festivais, em Belo Horizonte e fora também. Durante esse processo eu ainda não estava no grupo, entrei no final, viajei com a galera com essa cena, mas entrei para somar também na produção e como artista. Nesse período a gente entendeu que queria ser um coletivo. A partir daí, nos unimos como grupo e outros artistas chegaram também, artistas do Teatro Universitário (TU), de outras formações como cinema e literatura. Hoje nós somos sete pessoas. Somos artistas de multiartes, mas boa parte com foco em teatro. Também temos formação em administração, psicologia, relações públicas, cinema. Então há bastante variedade de atuações dentro do grupo. Hoje a gente já tem seis anos de trajetória. Nesse período surgiu a associação. A gente entendeu que era importante se formalizar como instituição, e, por conta de um projeto de empreendedorismo e negócio de impacto social, conseguimos apoio de um edital para formalizar a Associação Arte Sapas. Assim, o coletivo Fanchecléticas faz parte da associação como um eixo artístico, e dentro dela temos outras atividades além do teatro e das artes cênicas.


Quais são essas atividades?


Dentro da Associação Arte Sapas a gente tem alguns eixos. O primeiro é o sociocultural, em que a Fanchecléticas atua. Também temos um eixo de negócio de impacto social, que é uma loja e ateliê de serigrafia, onde produzimos peças impressas autorais e comercializamos, mobilizando financeiramente a instituição. Temos também um núcleo de pesquisa e memória, em que, ao longo desse tempo, fomos elaborando mapeamentos e pesquisas relacionadas à arte LGBT em geral, publicadas no nosso site. E um quarto eixo que vamos lançar a partir do ano que vem, que é a editora Arte Sapas. Já temos quatro livros previstos para publicação, a maioria livros infantis e ilustrados, junto com produções literárias, que também é uma área de muito interesse para a gente.


Do que fala a peça Expedição Reversa? O que é uma expedição reversa?


A Expedição Reversa começou com uma cena curta, que circulou em 2022, no final da pandemia. Foi um trabalho que chegou a ser interrompido por um tempo e depois virou espetáculo. É uma peça que fala sobre uma certa arqueologia futurista: ao mesmo tempo em que investigamos fatos históricos do passado, projetamos futuros imaginários, futuros possíveis. Por isso expedição reversa, porque viajamos para o futuro e para o passado, misturando essa dimensão do tempo. Nessa pesquisa a gente faz um mapeamento de personalidades e histórias importantes dentro do universo sapatão. Começou com essa pesquisa, mas ao longo do tempo fomos ampliando, transacionando como sujeites, para transgeneridades e identidades de gênero não cis-gênera. Entendemos a identidade sapatão não apenas como uma sexualidade, mas como uma cultura. Por isso expandimos a visão para outras figuras dissidentes também. Na peça temos microcontos, humor, música. Criamos uma situação imaginária de sequestro, em que fabulamos quem seria sequestrado e por quê. Dentro dessa brincadeira falamos sobre a história do Brasil e sobre a história LGBT dentro dessa brincadeira e do resgate.


Vocês já se apresentaram em São João del-Rei ou no Teatro da Pedra?


Ainda não. Essa será a primeira vez. Minha família vai estar lá, então vai ser uma estreia importante para mim. Já nos apresentamos em Tiradentes, mas não em São João.


Como surgiu o convite para São João?


Foi durante a temporada em Tiradentes. A gente queria apresentar em São João também, mas não deu para casar as agendas. Agora, conseguimos marcar para o mês seguinte. Eu já conheço bem os artistas do Teatro da Pedra há algum tempo. Estudei teatro em São João, na UFSJ, há uns dez anos, então sempre tive vontade de levar o grupo para lá.


Quais são as expectativas do grupo? O que o público pode esperar da peça?


A gente espera um público massa. Esperamos que as pessoas compareçam, principalmente as pessoas LGBTQIAPN+, para nos encontrar e celebrar. É uma peça que é uma homenagem e um desejo de encontro, mas também esperamos que pessoas de fora da comunidade venham, para trocar com a gente e conhecer mais. É uma peça divertida, engraçada, musical, poética. A gente gosta muito de fazer bate-papo depois, para ouvir comentários e críticas. É uma peça com que brinca com a palavra, muito poética, às vezes até considero muito musical. Quem curte poesia e música vai gostar bastante.


Tem algo que eu não perguntei e você gostaria de acrescentar?


Também queria deixar nossos contatos. No site da Coletiva Fanchecléticas tem tudo sobre nosso trajeto, nosso portfólio e link para a loja, onde as pessoas podem comprar produtos para fortalecer nosso corre. Eu acho que é muito importante dizer que o nosso trabalho ele tá em cena o ano inteiro, não só nos meses de orgulho LGBT, que é onde as pessoas às vezes se lembram e pautam a nossa temática. Eu acho que a ideia é que todo ano a gente esteja com agenda cheia para poder discutir e falar sobre nossas existências, sobre as nossas ideias de mundo que vão para além da gente também, né? A gente tá nesse mundo assim como a maioria das outras pessoas. Então, a nossa ideia mesmo é estar presentes trabalhando como artistas o ano inteiro e é um desafio enorme assim de sustentar a vida de artistas independentes. Para nós é importante falar sempre pra valorizar o artista, pagar ingresso e fazer o possível para que os teatros estejam com agendas sempre cheias. Teatros da de São João del-Rei, para além de formaturas e eventos institucionais, que nunca falte teatro. Porque vontade e artista para fazer tem muito, o que falta mesmo é oportunidade e investimentos.

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Fotos de divulgação de Fanchecléticas e de outros espetáculos que estão na temporada.


Links das Fanchecléticas:


instagram: @fanchecléticas


Primeiro fim de semana


A abertura, no sábado, 23, começa às 17h, com uma roda de conversa sobre "Vivências Drag no interior de Minas", a partir das perspectivas de Agatha Fiori e Stayce Carter. Elas voltam ao centro da cena às 21h30, com uma performance na festa de lançamento da Temporada.

Antes disso, às 18h, acontece a abertura das exposições “Corpos marginais”, de Rafael Senna, e “Ifé”, de Júpiter Porã.

Às 20h, tem o espetáculo “Expedição Reversa”, com as Fanchecléticas. A peça fala do universo LGBTQIAPN+, com referências históricas, políticas e culturais brasileiras.

No domingo (24/8), às 19h, o MAPA Teatro apresenta o espetáculo “Ensaio para o Fim”, em que duas atrizes se encontram em cena para tentar responder à seguinte pergunta: o que se diz quando o tempo parece curto demais?


Salve as datas!


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*As duas primeiras semanas da Temporada 2025 terão valores acessíveis: R$15 a meia-entrada e R$30 a inteira. Já a programação da última semana será gratuita.


O Centro de Pesquisa em Arte e Educação Teatro da Pedra fica na Av. Luís Giarola, no. 2564, na Colônia do Marçal.

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