Basta de vampiros
- Daniela Mendes
- 22 de set.
- 3 min de leitura
Não adianta omitir a atuação de deputadas e vereadoras para inflar a imagem de vampiros através da polarização de duas alternativas masculinas. O futuro é feminino.

É uma vergonha o que as mídias locais vêm fazendo em meio à briga pelo capital político do bolsonarismo. Ainda mais depois de ontem, com manifestação tão expressiva no Brasil e com um simbolismo tão forte em São João del-Rei. Omitir a atuação da primeira deputada federal a representar a Região das Vertentes é machismo.
O voto contra a PEC da blindagem da primeira deputada federal a representar São João del-Rei, uma professora de medicina que dedicou sua carreira à pesquisa da saúde coletiva, foi sumariamente ignorado para inflar a imagem de um vampiro como político recondicionado.
A cara de pau é se dizer contra a polarização e se vender como terceira via, mas usando a estratégia de polarizar contra outro deputado bolsonarista que vem votando sistematicamente contra as mulheres e o meio ambiente na câmara. Para disfarçar um pouco, teve uma rádio que colocou o vampiro ao lado de um deputado de esquerda como coadjuvante. Mas homem, ignorando a mulher.
O Nosferatu barroco se porta como se tivesse feito mais do que a obrigação ao votar contra um projeto que só pegaria mal para alguém com o seu histórico de escândalos. Mas alguém o viu na rua? É o mesmo modo de sempre, de fazer político sorrateiro e na cara de pau oco, forjado em blindagens muito mais eficazes que dispensa leis escandalosas no congresso.
Sei que todos ainda estão embriagados de esperança depois do ato democrático de ontem, mas não podemos descansar. Vamos lembrar de um tempo em que a Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), era uma pequena fundação federal com nove cursos e a cidade era refém do coronelismo, sendo até orgulhosa em se dizer "curral eleitoral" de playboy carioca.
Ele já era vampiro naquela época mas ventilava sua máscara às custas do avô que foi uma peça importante no processo de redemocratização. Político, cruzava os braços enquanto Fernando Henrique investia forte contra a universidade pública. E, cansado de apanhar do ex-prefeito que a cada quatro anos o expulsava do seu delírio dinástico ao derrotá-lo nas urnas, se uniu a ele. Contrariou os correligionários locais na força do ódio, do antipetismo. E perdeu de novo.
De novo porque em 2014 não conseguiu se eleger presidente do Brasil por margem estreita. E então o vampiro não reconheceu o resultado das eleições. Liderou a pauta do “quanto pior, melhor” e ajudou a criar o ambiente que derrubou Dilma Rousseff em 2016, num processo, também machista, de golpismo.
Esse movimento destruiu sua imagem de líder nacional. Pouco depois, os escândalos da Lava Jato e, sobretudo, o caso JBS, jogaram a pá de cal e o transformaram de promessa presidencial em meme político. E então o vampiro talhou um confortável lugar de deputado discreto, reduzido a manobras pontuais de pouca visibilidade.
Desleal, infiel, sem oferecer alternativa viável após a queda de Dilma, associou-se ao governo Temer e carregou o peso das reformas que iniciaram o retrocesso social que hoje combatemos. E quando o bolsonarismo já havia infiltrado o caos no país numa ingerência sistemática na pandemia, o vampiro assistia a tudo com um balde de pipoca da sua confortável cadeira de deputado.
O governo Bolsonaro atrasava compra de vacinas, promovia remédios ineficazes e incentivava aglomerações. Enquanto o país chorava mais de meio milhão de mortos, o Nosferatu barroco se mantinha em posição dúbia: nem junto, nem contra. Evitou confrontos diretos, manteve-se numa postura de “centro”, como se isso fosse suficiente para apagar seu papel no passado.
Estratégia que ele acredita funcionar furiosamente. Pois tenta ressurgir ao custo de apagar lideranças femininas que representam a renovação da política na região. O método é o mesmo machismo de sempre ao lado da tentativa de inundar os veículos locais com uma imagem asséptica e uma tradição que até agora ele só desonrou com a péssima gestão do governo de Minas e notícias que engordam a boca de Matilde. A mídia local parece sofrer amnésia e finge normalidade.
Tanto otimismo não é bom sem estes vampiros encontrarem a estaca no peito. A irresponsabilidade de quem os apoia deve ser apontada e devemos lembrar aos desavisados que o jogo não zera só porque o vampirão da Região das Vertentes mudou o penteado.
A política aqui avançou, não é mais aquela que ele delirava dominar e a maioria não é gado dele. Mesmo a direita na região precisa olhar para frente. O futuro é feminino e nós devemos fazer coro a nomes como Ana Pimentel, Cassi Pinheiro, Lívia Guimarães, Sinara Campos, Suelen Cruz, Waleska Teixeira e tantas outras que ocupam espaços não institucionais. As mulheres são as promessas de um novo tempo na política, da verdadeira renovação dos direitos. Quem insistir no machismo e na tentativa de apagar a atuação delas terá que se desculpar depois.







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